QUERO SER MAIS EU


Hoje acordei com vontade de não ser eu,

Reneguei-me no primeiro minuto de hoje,

Mas logo percebi que até para não ser eu

Preciso absurdamente ser mais e mais eu.


Se eu não fosse eu, que sonhos eu teria?

Onde estariam meus filhos que tanto amo?

A quem eu denominaria de pai ou de mãe?

A quem eu tanto amaria se não ti, bela flor?


Um novo ano se inicia, nascem mil desejos,

Uns querem a riqueza, outro a melhor saúde,

E eu, por tudo que amo e mais prezo na vida,

Desejo-me profundamente ser mais e mais eu!

Ultrapassando


No caminho que percorro ninguém sequer me ouve,

Ninguém sequer me olha, mas choram minha ausência;

Ultrapassei na hora errada, preciso voltar para casa!


Crianças correm no parque de minha memória,

São meus filhos, o mais belo de minha história!


No quarto, chora uma linda esposa, chora uma mãe,

Choram os filhos, choram pela ida de quem adoram,

Dizem que não há mais a certa volta do ente amado!


Aquela cruz, daquela estrada, esclarece meu enigma.

Deixo a terra agora, seres diáfanos me guiam além.

Serei luz, acalento, daqueles de minha então história!

Quem me dera


Quem me dera eu tivesse o dom de fazer com que você passasse, incontinenti, a me amar...
Talvez tal situação seja impossível, talvez não, mas o fato é que teus olhos neste instante me dominam, tomam conta de meus sentimentos, guiando-os para um mundo em que jamais sairia por minha vontade, posto que cheio de ternura.
Sei de minhas limitações, conheço a fronteira do tangível, de modo que na maioria das vezes não conto a história de minhas perdas amorosas, mas conto, em alto tom, através de meus versos, pobres de rima e de vernáculo, a história do que não foi e poderia ter sido!
É nessa dimensão da imaginação, no espectro das conjecturas, que eu consigo viver feliz sem me aperceber de sua ausência em minha vida. Tal devaneio me coloca longe do sofrimento da desilusão.
Quase impossível entender por que não somos felizes no amor. O amor deveria ser o ápice do bem estar humano, mas muitas vezes acaba por ser a causa de muita dor e desalento. Quantas pessoas sofrem por amor? Uns não são correspondidos, outros mal amados. A própria História nos demonstra que por amor, ou melhor, por desilusão no amor, guerras aconteceram, impérios estremeceram, palácios ruíram. Sem contar os dramas individuais que acontecem no bojo da civilização.
Por isso tudo eu me evito, driblando a minha própria história. Enquanto os crimes passionais ocorrem, enquanto alguns se transformam em andarilhos ébrios, enquanto outros pulam de ponta-cabeça nos pontilhões, simplesmente eu estou fazendo piquenique com você numa bela tarde de domingo, ao som de sabiás, peitos-amarelos e tico-ticos. Sou louco? Não sei exatamente o que o Doutor Simão Bacamarte me responderia.
Dentro do contexto delineado, eu elaborei uma história sobre nós, evidentemente daquilo que poderia ter sido, do que não foi. A história tem um enredo maravilhoso, os cenários são perfeitos, com detalhes descritivos que dá inveja ao maior dos romancistas. Uma história de comédia-romântica que revolucionaria todas as atividades artísticas possíveis.
Sendo assim, talvez um dia eu mostre a você todo o enredo de nossa hipotética história, quando, de repente, você sair da realidade também e me encontrar no mundo mágico de meus sonhos, dentro da perspectiva daquela máxima que nos diz que sonho que se sonha só é só um sonho que se sonha só, mas o sonho que se sonha junto é realidade!

Carta ao pai


Pai, como está a tua vida ai no céu etéreo?
Será que ai o teu começo foi mais simples?
Porque quando aqui esteve você venceu,
Suplantou todos os obstáculos impostos,
Numa existência de muita luta e trabalho!

Deus te levou, é evidente que O perdoamos,
Desde que tenha lhe dado um sítio para cuidar,
Uma camionete para carregar o teu gadinho,
Uma luneta para o Senhor ver a netada crescer
E uma escada grande para às vezes aqui descer!

Sim, sabemos que Senhor ainda continua presente,
E mais do que nunca, pois agora tornou-se todo Luz
E no vasto céu de nossos corações brilha forte, reluz!

Pai, agradecemos por tudo, pelo conforto e pelo exemplo.
Aqui as coisas estão caminhando bem, fique bem tranquilo
E quando chegar a hora da final travessia ao além-túmulo
Que me desculpem Deus e Jesus, mas no portal do éden
Quem nos conduza para dentro seja o Senhor, pai da terra,
Digno de todo nosso louvor, digno dos céus e das estrelas!

Sobre nós


Nesta noite eu abro o meu coração, basta desse jogo insôsso de xadrez,
Minha vida é bem mais que esse gelado tabuleiro desenhado por você.
Portanto, sente e me encare olho a olho, porque a verdade nos espera...
O futuro está bem ali, olhe ele a brilhar, o que vê transcende o teu "eu"?
Vislumbra uma família da qual você seja a maior benção de todos dela?
Estará sempre ao meu lado, seja lá o que vier acontecer conosco?
Não deixará a chama do teu desejo por mim minguar com o tempo?
Seja eu rico ou pobre, sentirá orgulho em me ter como teu grande amor?
Tem noção de meus defeitos e que aceitá-los é uma cabal prova de amor?
Gentil alma, é tempo de ir além, e o porvir me concede a felicidade cobiçada!
Portanto, sem mais delongas, diante das altas indagações lhe submetidas,
Diga-me se deve partir ou ficar, se devo rir ou chorar, aflore a tua verdade!
Se for partir, que a tua jornada seja a mais próspera que se possa ter;
Se ficar, mil sonhos a realizar, uma vida toda a se compartilhar,
No cofre do meu coração irei te colocar e a chave ao universo lançar,
Para que tal chave sequer se possa achar ou mesmo se procurar!

AMOR VIRTUAL


Meu coração não mais me pertence,
Você o levou via e-mail.
Sim, o amor virtual existe
E ele é tão forte e tão real

Que sinto um toque úmido nos lábios
Quando me manda um beijo digital.
E-mail, o meio de te amar:
Cada palavra, um, gesto
Um breve sussurar...

Em teu ritmo


Sensualidade é expressar menos do que a terça parte da metade sobre você!
Aquele beijo que você me deu, oh! teve o efeito de mil afetos doces e lascivos;
Ainda tenho arranhadas as minhas costas, herança daquela noite de êxtase.
Não consigo esquecer da delicadeza do teu gingado ao som
Rhythm is a dancer(1),
Conduzindo-me aos maiores devaneios possíveis, uma louca e súbita paixão.
Sim, foi uma noite maravilhosa, eu inexoravelmente me entreguei todo a você,
Entrei em teu forte ritmo achando-me indômito, mas você me dominou, e como!
Não sei ao certo se é amor, não sei se é paixão, só sei que estou bem em tuas mãos,
Sou marionete neste jogo sem regras que entrei, perdidamente, viciei-me em você.
Teu charme, teus leves laivos, tua ternuda, sequer quero pensar como é viver sem!


(1) http://www.youtube.com/watch?v=u_ppF2yK4NM&feature=related


FUNIL


Caminho pelas veredas mais distantes
Ouço o som de gritos horripilantes
Entre gente todas degradantes...

Num momento me faço de assaltante
E busco da criança saltitante
a utopia mais fascinante...

Giro o mundo num instante
Como se fosse gigante
Bem distante...

Como Errante
Vou Avante
sonante...

Pela Rua Augusta


Comece a fina garoa
Ou comece a chuva,
Caminho pela Augusta:
Luzes de neon,
Mulheres semi-nuas,
Sinalizam com as mãos
Um convite de orgias!

Estou tão disperso,
Tão longe de mim:
Será que hei de encontrar
Uma alma augusta
Caminhando pela Rua Augusta?

Então eu caminho,
Meu jeito todo ingênuo
Contrasta claramente
Com a doce malícia da Rua,
Que me mostra pernas,
Escancara as coxas,
Me convida para a dança
Em teus bordéis multicores!

Sigo disperso pela Rua,
Uma puta que chora,
Maquiagem desbotada,
Recostada à sarjeta,
De repente me olha
E se supreende a sorrir.

No entanto, prossigo,
Olho para a alba lua,
E magicamente me lembro
De um sorriso paulistano
Que habita na Morada do Sol.

E vou-me indo...
Pela Rua Augusta,
Nesta Noite sem fim,
Nesta augusta hora
que me ponho a sonhar
Que ela há de me amar!

Continuo a jornada,
E como se fosse a cidade Sampa,
Meu coração do nada está a garoar
Nesta noite que teme em não findar!


28/05/2010 - Caminhando pela Rua Augusta, nas proximidades do Teatro Augusta

AMOR IMERSO


Vejo meus olhos espiando a profundidade de meu ser
Sinto meu corpo escorregando nos desfiladeiros de minha alma.
E mesmo assim não perco a calma, e a alma na sacada de meu ser
Num instante se safa e parece se erguer e se lançar ao céu.
No entanto, sou vento porque sou atento ao meu tempo
Que me resta nesta infinita hora que se finda no não agora.
Explode coração, arrasa-me o pulmão, quebre-me os ossos
Mas nada sufoca este furacão, tufão dos mares inavegáveis.
Porque são delírios do êxtase de um amor que me faz não pensar
Perdido entre a vida e a morte que já não sei o que mais expressar.
Em mim sinto-me tão pouco que eu não me basto para o tanto
Que sinto ser diante das dimensões transcendentais que me perfilam.
O meu desejo que me incumbe ao todo da existência térrea célere
Anseia por desprendimento sobrenatural e por isso sofro ao fundo.
Brilha a luz interna, endógeno batimento cardíaco, sinais físicos
Que pouco ou nada denotam deste amor sufocante e irradiante.
Amor imerso em outrem: meu universo imenso em mim.

Paladino


Quando menos se esperava,
entre tiros de bazuca e rajadas de canhões,
Lá vai o Alberto correndo pela areia
Sangue saindo de suas narinas
Vai quase que caindo
Passa por todo mundo
Árabes, iraquianos, americanos
Um comenta: "Ele é Brasileiro!"
E Alberto corre até chegar num monte.
Incrível, chegou ileso e com peso.
Se sente como se fosse o profeta Elias
E grita: "não se preocupe meus amigos, a vida é como o horizonte,tão longe tão perto, tão lindo e desigual".
Maldita vida, acertaram o Alberto bem na testa.
A carruagem de fogo chegou mais depressa.

Encontro Marcado


De repente minha avó partiu
O mais depressa possível,
Parecia até que tinha hora marcada.
No céu de uma noite de quarta
Do mês de março de 2006,
Duas estrelas brilharam juntas
Na imensa e fértil Via Lacta.
Era o registro celestial
Do reencontro de Bruna e Alberto,
Na transcendência da vida e do amor...

Infinitudes em mim


o que procuro não se encontra em casa,
nem nos livros e muito menos nas esquinas da vida.
O que procuro ninguém explica,
Nem Freud, nem Jung, nem Ele talvez...
O que procuro não se acha,
E se um dia eu achar,
Finjo que não achei...

O que sou


Sob uma imensidão de sonhos
As utopias socialistas de Marx
Os anseios de Freire
A liberdade de Che
A justa palavra de Jesus
Me pergunto o que sou.
E essa pergunta não cala
E a ferida não sara...

Navegando


Um breve silêncio me tomou de assalto,
Me fez vislumbrar a faixa infinita dos horizontes
Numa profusão de expectativas em expansão.

As sentimentalidades se afloraram em mim,
Fiz-me gladiador e cortei com minha espada
Todos os rancores e temores que me assolavam.

Perdoei a mim mesmo diante de meus pecados
Estraçalhei todos os recados mal...ditos
Zombei daquilo que sempre levei a sério.

Naveguei numa jangada de bambu
Pelos mares cantados por Homero
Feito Odisseu, venci as atribulações dos deuses.

Terra à vista! Terra à vista!

Mas não posso fincar o pé no chão
Preciso contimnuar a navegar e navegar...
Pois ainda não tenho uma Penélope
Tecendo os sonhos de minha volta.

E o breve silêncio já não é tão mais breve assim...

Visão erótica


O poeta pega o lápis e o papel
O pardal com saudade de Paris
Canta que nem louco no teto.
A poesia parece querer nascer;
Entre goiabeiras e jabuticabeiras
Lá vai o malandro assanhaço
Quem nem avião
Cai de bico no mamão.
O poeta sorri
Se lembra de sua primeira vez...
Foi maravilhosamente estúpido
Como o vôo do assanhaço.

Sei não


O que sou nem sei ao certo
Inefável meu passado
Incerto meu futuro
Trágico meu presente.

Sem pai sem mãe
Sem escola e sem saúde
Nasci no Brasil
Filho da desigualdade.

Tenho sonhos e desejos
sinto frio e fome
Me contento com uma blusa
E com o resto de comida
Que este país me dá.

Detesto comícios políticos
Usam palavras difíceis
Como utopia, isonomia,
Soberania e outras mais.

O que eu sou?
Para que eu presto?
Nada a declarar
Seu moço...

Monólogo da despedida


Pode deixar os cacos, eu mesmo os recolho,
Já pensou se você me acerta na cabeça?

Não, não chore ao ver lágrimas em meus olhos,
Vai passar, você vai ver, tudo o tempo conserta.

Sim, leve esta foto, talvez você sinta saudade,
E quando menos você espera a beija em seu quarto.

Entendo, não podemos conter nossos sentimentos,
Pois são águas incontroláveis, eu entendo sim.

Ta bom, eu prometo, vou superar tudo isso,
Afinal, o que posso fazer senão tocar em frente, né?

Não, não me importo, pode levar todas as cartas de amor,
Até porque eu as tenho aqui em meu cérebro.

Não se preocupe, vou comprar um ótimo despertador,
Que te substitua nas manhãs para me acordar.

Preciso te falar uma coisa, você sabe que adoro brigadeiro,
De vez em quando vou te pedir que faça para mim, tá?

Certo, sei que você adora ouvir estes CDs, pode levar,
Mas se ouvir a faixa cinco deste vai ter uma recaída, heim?


Você sempre achou isso de mim, mas não é bem assim,
Na verdade eu sou deste jeito, prepotente às vezes, só isso.

Sim, vai aparecer alguém especial que me amará,
Alias, você sabe, acredito muito no amor.

Já que insiste, eu recito o verso de Vinicius:
“Que não seja eterno, posto que é chama,
Mas que seja infinito enquanto dure”.

Não vamos começar a chorar novamente,
Você não tem culpa, eu entendo, já disse!

Deixa que eu fecho a porta, seu novo amor te espera,
Está morrendo de ciúmes lá no carro, olha a cara dele.

Então tá, despedida sem beijo e abraço, tudo bem,
Adeus.

O tempo do homem do tempo


O tempo é um constante passar,
Nunca pára para me cumprimentar.
Eu, solitário, encostado na porta de um bar,
Esperando lancinantemente o tempo passar...

Quem pode mais: o homem ou tempo?
O tempo por si é infinito
O homem pelo tempo é finito.

Eclesiasticamente falando, há tempo para tudo,
Mas, ao mesmo tempo, o tempo é tudo:
Onisciente, controla tudo porque está em tudo.

Quem pode mais: o homem ou o tempo?
O tempo é escravo de si próprio;
O homem é escravo do tempo e de seu tempo.
O tempo é a sua própria causa.
O tempo é o abstrato fatal do homem!

Seja mais você


Sobre o teu rosto...
Passe o véu da verdade.
Afaste de ti toda a escuridão,
Use de Minha luz...
Pegue em Minhas mãos,
Siga em frente Comigo.
Acredite sempre:
Você vencerá!
Abandone tudo que é vil,
Despreze o inútil,
Diga adeus a tudo
Que te fere a alma.
Olhe o pássaro que voa
No imenso céu:
O que mais deseja
Senão a liberdade?

O Sorriso dela


o poeta adora o sorriso
feminino que o leva
às raias do deslumbre...

vê nos lábios dela
pétalas rosas amarelas
e a vida assim mais bela...

numa espécie de tela
em miríade de cores
do maior dos pintores:

de toda prosa lírica
entre nuvens e trovões
sonha os seus amores...

e o sorriso dela
todo poderoso e sensual
entre tantos se impõe...

o poeta menino de arte
provoca nela
o sorriso que sempre espera...

O homem e sua solidão

Um homem e sua angústia trilham na escuridão...
O suicídio lhe agrada, mas a morte não o convence.
Então ele pára na encruzilhada daquela velha estrada,
Pensa, mexe a cabeça, olha para a lua e sorri...
Volta para casa pela madrugada...

Teu retorno


"Dedico esta poesia a uma amiga que hoje mora em Amisterdã e anseia por voltar..."

Do outro lado do oceano, estou ansiosamente a te esperar,
E quando você logo desembarcar na cidade de Guarulhos

Nossa vida num instante e para sempre vai se transformar,

Um grandioso, verdadeiro e lindo amor real vai se aflorar.

Vou, enfim, te beijar, te acariciar, você verá meus olhos

Eles são verdes ou azuis? Eles irão piscar, irão brilhar?
Sou tímido, teu abraço sentirei imensamente na alma.
Mantenha a calma comigo, mas não vou me agüentar,
Pedirei você em namoro, sim, sem medo do que me dirá!
Enquanto você encerra a tua jornada pela a Amisterdam,
Vislumbre o movimento do Amstel e deixe o tempo findar,
Porque o que mais anseio é você por aqui logo chegar,
E nossas mãos se enlaçarem, destinos traçados, em frente,
Nosso amor é mais intenso do que qualquer best seller,
inefavelmente, seja na net ou no real, não tem ponto final!
Bela flor, luz minha, deixe a Holanda e vem para cá,
Vem para ser eternamente a mais magnífica Tulipa
Do jardim dos meus sonhos!

Teu gozo

Teu corpo me domina, me fascina, me aliena de toda a razão,
Perto de você me transformo em uma criança toda sem jeito,
Você faz de mim o que quiser, teu cheiro manda em meu ser,
Arrepio-me todo, fico entumescido, agora sou profundo desejo:
Sim, te quero como minha fêmea, minha mulher, quero te amar.
Se você possui minha alma, quero todo o teu agrado da carne,
Para me compensar, quero ser teu dono incansável e indomável,
Vamos nos enlaçar nesta noite, vamos gemer em bocas coladas!
Me dispa! toma para si não só a alma, mas desbrave minha pele,
Porque agora quero sentir teu corpo, vibrar com teu suave gozo!

O que você faria?


O que você faria, até aonde iria,
Do que seria capaz por um amor?

O que te faz pensar que é fácil amar,
Que será, enfim, correspondido?
De onde tira essa magia toda,
Para ainda acreditar que é possível?

No entanto, você chora, está esquisito,
Você simplesmente chora sorrindo,
Sente falta em tua vida vazia
Dos beijos que não são mais teus.

E ela perpassa por tua memória como brisa,
Sente o cheiro e sente levemente o tato,
Uma lágrima se escorre, gotas no travesseiro.

Mas você a ama, sentimento pujante, você a quer,
Nem mesmo a dor fria da solidão te refreia,
Então você se soergue e telefona...

Ela sabe que é você, mas e daí?
Nem o mínimo esforço para atender ao fone.
Mas você a ama e imagina que ela está a chorar,
A rosa tem medo de as pétalas todas soltar...

Então sonha uma noite de estrelas diáfanas,
Ela vai atender tua chamada e dizer: oi meu amor
Por onde você andava, longe de mim?

Você a ama, e para quem ama
Tudo é possível!

Guarda-Chuva da Alma


De repente, dentro da gente ocorrem grandes tempestades,
Formam-se nuvens cinzas a denotar uma tristeza à toa.
Chove forte, em algumas épocas, em nossa alma que pede calma.
Fico a imaginar, será que existe guarda-chuva para a alma?
Se ele existe, tem teu nome e a forma de teu lindo sorriso!

Vivo vivendo comigo






Vivo sempre entre minhas fantasias e ilusões,
A realidade mesmo, vivo-a de quando em quando.
Todos os meus grandes amores são feitos por mim,
Não são obras do destino ou de um bom galanteio,
Mas forjados e arquitetados na oficina de meus sonhos.
Neles eu sempre sou feliz, os finais são felizes também,
Todos os sorrisos são belos e verdadeiros,
Todos os choros fortalecem ainda mais as paixões.
Para que então viver a realidade dura de pedra
Senão para sonhar intensamente que a vida é possível?

MEU BRASIL


Meu Brasil, mostre-nos a face
Dos traidores e demagogos
Que discursam nos falsos palanques,
Que enganam os desdentados,
Que iludem os adoentados,
Que seduzem os apaixonados
E manipulam a turba de alienados...

Meu Brasil, mostre-nos a face
Dos algozes não dá Pátria,
Nem de mim e nem de nós,
Mas das tuas crianças
Que choram de fome e frio
Ao longo da madrugada...

Meu Brasil, mostre-nos a face
Dos filhos de Mefisto,
Que esbanjam abjetas cobiças
Nos paraísos atlânticos e pacíficos
De bilhões e bilhões de pecados...

Inútil Crueldade


Ao som de canhões, aviões e cães latindo e rasgando coxas humanas,
Nas vastas filas de uma atroz e cruel caminhada ao fim de tudo...
Ainda persistia a vontade de primaveras presentes e futuras.
Nem mesmo a cara rabugenta de um soldado em armas
Conseguiu segurar a gargalhada estrondosa do menino de cabelo raspado,
Que vislumbrou no vôo majestático de uma borboleta multicor
O sonho de Ícaro, dando asas a seus pensamentos...
Quando a porta do barracão se fechou a mãe abraçou ao filho
Com tanta força que provocou lágrimas em todos,
O menino sorria para a sua mãe imitando a borboleta.
Mãe e filho, ao centro de toda aquela gente, beijavam-se.
Enquanto a fumaça mefistofélica impregnava o local,
Últimos suspiros foram dados e todos tombaram ao chão
A mãe ainda abraçada ao filho, que sorria ao porvir...
Ao porvir...ao porvir...ao porvir...ao porvir.

Me de ser feliz talvez...


A moça que passa em mil passos...
Passos céleres pelo espaço,
Pondera em como chegar em seu amado;
Nem percebe que este anda por ela enamorado,
Nem sequer imagina
Que na sua vida há algo de trágico,
Pois toda mulher para conquistar seu amor
Espalha sorrisos pelos lados.

Pobre daquele rapaz que todo dia a olha passar
Não acha coragem para lhe expressar o que sente,
Ilude-se que ela um dia descubra seu amor.
Esquecem que todo caso nasce das pequenas coisas:
Uma conversa, um olhar frente a frente
Ou simplesmente um sorriso.

...

O tempo passou...
Mas a moça nunca mais!
O rapaz também não se encontrava mais por perto.
Num jornal jogado e arrastado pelas procelas e vendavais,
Talvez resquícios, um adeus ao menos!
Na seção de notas de falecimento...

Por que poesia?


Por que, poesia, vives dentro de mim
E no de repente queres sair daí assim:
Toda impetuosa e vicejante a expor
As entranhas abstratas do meu ser?

Que oculta substância há em mim
Que te concebe tão forte e contumaz?
Será a dura realidade de minha loucura
Ou uma imensa sentimentalidade sem cura?

Poesia, por que me fazes viver em fantasia?
Por que me contagias com sua malícia?
Por que às vezes me cortas e sangra
Mas meu sangue não derrama?

Poesia, se és do mundo da magia
Mas é em mim que de toda se anima,
Será tudo em mim esquizofrenia?
Ou mesmo uma autopsicografia?

Transcendência Musical


Ao som de “With or without you”
Sinto minha alma se desprendendo do corpo,
Inebriada que fica pelos acordes do teclado
Que alcança o ápice da transcendência musical...

No amálgama das lágrimas que escorrem
Na vã tentativa de afogarem meu sorriso,
Invade-me o êxtase mais sublime,
O esplendor da revelação insofismável...

A música ecoa forte na voz do profeta irlandês,
Toma completamente conta de meu ser:
Demonstra-me através de seus acordes sonantes
Que o amor é possível e magnificamente libertário!

Diante da mais sublime revelação da vida,
Entre arcos íris imaginários e visões sutis,
Só me resta gritar para todas as direções:
“Eu te amo e espero por você”.

Sempre sem você


Deitado em minha cama sozinho...
Sinto seus passos no corredor...
Ouço a porta se abrindo...
Acordo de meu sonho...
Estou sozinho e nada segura
Minhas lágrimas de solidão...

Estou num deserto sufocante...
Vislumbro a tua miragem...
Você é a nascente a me saciar...
Acordo de meu sonho...
Estou perdido e nada sacia
Esta sede infinita de você...

Por uma praça passeio...
Na tarde que me diz até...
Você é a flor do canteiro...
Que não posso acariciar...
Desta vez não é só sonho,
É a dura real em que vivo...
Sempre, sem você!

LIBERDADE


Hoje eu sou um pássaro livre,
Ninguém me segura,

Basta de cordas e correntes.
O mundo é tão grande:
Quero correr por todo o seu solo
E beijar toda terra que pisar
E me deliciar de toda
Água cristalina que me ofertar,

Abraçar, na minha jornada,

A todos por onde ei de passar.

Ah! Grande Guerreiro Zumbi

A vida nada mudou:
Essa tua vontade de liberdade

Fortemente ainda existe

E persiste dentro de cada nós!

Não se preocupem amigos:

A vida é como o horizonte,
Tão longe e tão perto

Tão lindo e desigual!

FIM DALGO


Fizemos um pacto
De que nunca nos separiaríamos
Mas o tempo corrói tudo,
Inda mais o amor:
Esse frágil sentimento
Que se quebra ao simples atrito.

Mesmo que brinquemos de quebra-cabeça
Com os estilhaços espalhados ao chão,
Sempre faltará alguma peça,
Nunca há de se recompor como outrora.

Mais fácil compor esse poema triste,
Pobre de sintaxe e conteúdo (se meu coração está vazio, o que dizer de meu poema),
Regado de lágrimas secas
E mecanicamente chorosas...

A NÃO-TRAVESSIA


Nada em você me busca:
Tuas mãos fogem das minhas,
Teu olhar vacilante, teus lábios fugidios,
Tudo parece querer ganhar distância;
Uma ligação (des)amorosa em pararelo.

Caminhos diferentes, pensamentos diferentes
Com toda a ênfase palpável existente,
Entre nós não há ponte; o que há:
Possíveis abismos, profundos despenhadeiros
Vales assombrosos...
Uma não inter-relação, uma falsa tentativa,
Verdadeira, crassa e palmar ilusão.

Portanto, caminhemos...
Melhor darmos as costas,
Pois a travessia desses abismos é inexecutável.
Mais fácil escalar o Himalaia, o K2,
Atravessar a nado o Solimões, o Paquequer.

Caminhemos...
Como dois bons animais que somos.

AMOR ASSIM


Encontrei alguém que sofra por mim...
Ela me liga todo dia para saber como estou
Eu dou uma de difícil, ela fica toda brava
Já faz tempo esse meu reino sobre ela:
E uma hora eu acabo reinando...

Todo dia seria o dia de lhe dar flores
Mas eu idiotamente não as dou...
Ontem mesmo até pensei em pegar na sua mão
Mas não aproveitei a mágica oportunidade.

Penso nela todos os santos dias,
Mas atitude me falta; o que não falta a ela,
Ela já chega e me encosta na parede,
E eu, desertor do amor, vou sempre recuando.

No dia dos namorados me deu de presente
Sentimento do Mundo, obra de Drummond,
Quando li o poema
Quero me casar
Lembrei de mim na contramão do amor.

Mas o amor se conquista,
E por mais que eu não queira
Ela acabou por me conquistar.
Confesso, estou sofrendo
Pelo que ainda não fiz em seu louvor.

Vou sair à sua procura e,
Antes que esse amor termine,
Quero asas para a loucura mais sublime!

TODO IMPÉRIO CAI



Encostem teus ouvidos ao solo
Escutem o trote cansado da cavalaria de Napoleão
Retirando-se das terras russas.
Vejam soldados congelados pela longa jornada
Vislumbrem a grande queda de um grande império.
A maior das tiranas:
A história!
E como ela gosta de tombar!
Avante civilização!

Ser caipira sem sertão...



Ser caipira sem sertão...
Morar na linda cidade Gavião
Tocando com os amigos
Uma boa viola e violão.

Ser caipira sem sertão...
Ler o mito Guimarães Rosa
Fazendo da vida uma prosa
Ao ler os causos de então.

Ser caipira sem sertão...
Colocar chapéu de couro
Saindo de madrugada
E ir para as bandas do Barretão.

Ser caipira sem sertão...
Deitar na rede da varanda
Atravessando a noite a sonhar
E a ouvir as modas do Tião.

Ser caipira sem sertão...
Amar sem nenhum medo
Pedindo em casamento
A linda filha do patrão.

A MOÇA DE MEUS SONHOS





A moça de meus sonhos tem o dom de sorrir,
É o sorriso mais lindo do mundo, como ela é em si.

Imagino-me sob seus braços, aconchegado próximo ao seu coração:

Seria como estar ao centro de um jardim cheio de aromáticas belas flores...
Seria a saudável perdição de todos os meus desejos diante de seus encantos...

Penso em como seria bom estarmos à beira de um riacho em balbúrdias de águas espumosas:

Ao som da água em queda pegaria em suas mãos e beijaria seus lábios...
Depois, todo vermelho, diria em seu ouvido o que só dizem os enamorados...

A moça de meus sonhos é a musa de minha inspiração,
Se nossos lábios se amalgamassem...
Que lindo ósculo daria!

POESIA?


Entre futilidades tantas
Ainda me encanta as tantas
poesias que me cantas...

Drummond, José saiu...
Mandou o mundo para
a puta que o pariu!

DESENHO DO SORRISO


Quando risco um sorriso
E esboça-se um riso
Sinto o risco
Do sorriso
Desfazer-se do riso.
Aí o riso
Esboça-se em meu sorriso:
Vejo o risco do sorriso
Esboçar o riso
No papel riscado
de sorrisos.

A GRANDE MUDANÇA


Por mais que a gente queira mudar as coisas,
Elas insistem em não mudar e mudam para mais
Do que não esperávamos jamais...
Se esta é a verdade evidente que nos cerca
E o fascínio da vida é vencer o fado que nos espera,
Então, no escuro de nosso quarto, vamos chorar,
E como o gladiador que chega de seu repto pessoal,
Tiremos os trajes de ferro e aço que esfriam nosso coração,
Lavemos a sujeira do rosto com nossas lágrimas sentidas,
Tratemos de nossas feridas, que não esbanjam sangue
E muito menos cicatrizes dilacerantes em nossa carne,
Mas a mais profunda dor que se possa sentir, latejante,
Aqui, dentro de nós, alvejados pela lança mais perfeita
Bem ao centro de nossas sensíveis almas.

(...)

A cama e o travesseiro estão diante de nós,
Agora nos resta apenas deitar e acreditar sempre
Que cada dia é uma batalha a ser vencida por nós
E as derrotas não existem para os sonhadores.
Mudemos a si próprios...

FLOR DO JARDIM


"Num jardim de frente ao antigo estádio municipal de Araraquara, ponto de ônibus de estudantes, por volta das 23 horas, em agosto de 2003"

No jardim todos esperam os ônibus;
A moça sentada no banco do jardim é linda,
Das flores do jardim, inegavelmente a mais bela.
O jardim é todo dela, todo ela, dela sou eu também.
Não a conheço, apenas a observo carinhosamente,
Como se estudioso fosse da mais rara flora...
E assim o tempo vai fluindo desapercebido
E a flor mais bela toma mais e mais conta de mim...
Enfim, chegam os ônibus com as portas abertas,
A flor bela vira um grande pássaro a voar!
Vai-se embora, sem ao menos olhar para mim...

Por onde passei é novidade para alguém


Numa mesa de bar o passado insiste em estar presente

Na boca indômita de um amigo desavisado...

Diz em bom tom que minha ex-namorada estava com outro,

“De mão dada e tudo, em uma lanchonete, tal de Kais”

Então, insiste ele a dizer: “lá mesmo naquele lugar

Onde você sempre dizia ir com a sua ex, estranho não?”

De repente todos param, voltam-se o olhar curioso para mim,

Todos à espera, ansiosos, da resposta do amigo sentimental.

Rapidamente penso na transitoriedade das coisas do amor,

Na última vez que lá estivemos, em que mesa nos ocupamos;

Lembro dela partindo o kibe ao meio, trazendo à tona o queijo.

Então viro o copo de cerveja e sem tristeza no olhar eu digo:

“Pois é, ela adora o kibe de queijo que servem lá.”

Ficam frustrados pela niilista resposta dada, faltou a magia.

Criado o suspense, arremato exatamente de forma inexplicável:

“Nem sempre o passado é pedra, mas é rolha e vive a flutuar...”

Novamente o amigo tagarela me indaga, pedindo objetividade:

“Mas que resposta mais maluca é essa meu?”

E a mesa toda começa a sorrir e a vida se toca é para frente.

AMOR IMERSO

Vejo meus olhos espiando a profundidade de meu ser Sinto meu corpo escorregando nos desfiladeiros de minha alma. E mesmo assim não perco...