REVELAR-SE

Nesta noite de ar tépido, estou sóbrio
(Nunca estive tão sóbrio como hoje).
Tento meditar como ensinam os manuais:
Encho e solto os pulmões de ar
E dou vazão aos meus pensamentos;
Eles são tão bravios, não há o que os segure.
Os vazios começam a ganhar vida, são monstros;
Já viu algum monstro? Atreva-se a olhar para seus abismos!
Sinto o corpo relaxado, batimentos equilibrados,
Parece que o corpo escapuliu-se pela janela indizível.
Agora só sou eu e minhas sensações e meus entraves;
Um ingênuo iria supor estar numa experiência metafísica,
Mas percebo que toda essa “loucura” é a mim imanente.
São tantas coisas, tento me focar em alguma delas
E parece que fisguei o meu maior medo, devo enfrentá-lo?
É necessário, pois ganhou toda a dimensão do pensamento.
Esse medo me acompanha há anos, desde a pré-escola.
Sim, vejo ele me acompanhando na salinha de brinquedos
No tanque de areia, no refeitório, na entrada e na saída.
Como se fosse meu melhor amigo, me acompanha até hoje!
Ele deve ser uma sombra que minha luz ainda não ofuscou,
Por isso, como estou diante dele, vou questioná-lo!
Preciso dar um corpo a este medo, para facilitar o diálogo:
Agora ele é um Tênis Bamba falando, não me pergunte por quê?
Responder a isso seria se aprofundar em águas além do possível!
Eu me aproximo do Tênis falante e pergunto: “Por que me persegues?”
Ele sorri ironicamente e responde: “Não te persigo, pois sou você,
Aliás, não sou você exatamente, mas uma condição, um atributo teu”.

De repente saio do transe, abro os olhos e choro ao me conhecer!

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AMOR IMERSO

Vejo meus olhos espiando a profundidade de meu ser Sinto meu corpo escorregando nos desfiladeiros de minha alma. E mesmo assim não perco...