FUNIL


Caminho pelas veredas mais distantes
Ouço o som de gritos horripilantes
Entre gente todas degradantes...

Num momento me faço de assaltante
E busco da criança saltitante
a utopia mais fascinante...

Giro o mundo num instante
Como se fosse gigante
Bem distante...

Como Errante
Vou Avante
sonante...

Pela Rua Augusta


Comece a fina garoa
Ou comece a chuva,
Caminho pela Augusta:
Luzes de neon,
Mulheres semi-nuas,
Sinalizam com as mãos
Um convite de orgias!

Estou tão disperso,
Tão longe de mim:
Será que hei de encontrar
Uma alma augusta
Caminhando pela Rua Augusta?

Então eu caminho,
Meu jeito todo ingênuo
Contrasta claramente
Com a doce malícia da Rua,
Que me mostra pernas,
Escancara as coxas,
Me convida para a dança
Em teus bordéis multicores!

Sigo disperso pela Rua,
Uma puta que chora,
Maquiagem desbotada,
Recostada à sarjeta,
De repente me olha
E se supreende a sorrir.

No entanto, prossigo,
Olho para a alba lua,
E magicamente me lembro
De um sorriso paulistano
Que habita na Morada do Sol.

E vou-me indo...
Pela Rua Augusta,
Nesta Noite sem fim,
Nesta augusta hora
que me ponho a sonhar
Que ela há de me amar!

Continuo a jornada,
E como se fosse a cidade Sampa,
Meu coração do nada está a garoar
Nesta noite que teme em não findar!


28/05/2010 - Caminhando pela Rua Augusta, nas proximidades do Teatro Augusta

AMOR IMERSO


Vejo meus olhos espiando a profundidade de meu ser
Sinto meu corpo escorregando nos desfiladeiros de minha alma.
E mesmo assim não perco a calma, e a alma na sacada de meu ser
Num instante se safa e parece se erguer e se lançar ao céu.
No entanto, sou vento porque sou atento ao meu tempo
Que me resta nesta infinita hora que se finda no não agora.
Explode coração, arrasa-me o pulmão, quebre-me os ossos
Mas nada sufoca este furacão, tufão dos mares inavegáveis.
Porque são delírios do êxtase de um amor que me faz não pensar
Perdido entre a vida e a morte que já não sei o que mais expressar.
Em mim sinto-me tão pouco que eu não me basto para o tanto
Que sinto ser diante das dimensões transcendentais que me perfilam.
O meu desejo que me incumbe ao todo da existência térrea célere
Anseia por desprendimento sobrenatural e por isso sofro ao fundo.
Brilha a luz interna, endógeno batimento cardíaco, sinais físicos
Que pouco ou nada denotam deste amor sufocante e irradiante.
Amor imerso em outrem: meu universo imenso em mim.

Paladino


Quando menos se esperava,
entre tiros de bazuca e rajadas de canhões,
Lá vai o Alberto correndo pela areia
Sangue saindo de suas narinas
Vai quase que caindo
Passa por todo mundo
Árabes, iraquianos, americanos
Um comenta: "Ele é Brasileiro!"
E Alberto corre até chegar num monte.
Incrível, chegou ileso e com peso.
Se sente como se fosse o profeta Elias
E grita: "não se preocupe meus amigos, a vida é como o horizonte,tão longe tão perto, tão lindo e desigual".
Maldita vida, acertaram o Alberto bem na testa.
A carruagem de fogo chegou mais depressa.

Encontro Marcado


De repente minha avó partiu
O mais depressa possível,
Parecia até que tinha hora marcada.
No céu de uma noite de quarta
Do mês de março de 2006,
Duas estrelas brilharam juntas
Na imensa e fértil Via Lacta.
Era o registro celestial
Do reencontro de Bruna e Alberto,
Na transcendência da vida e do amor...

Infinitudes em mim


o que procuro não se encontra em casa,
nem nos livros e muito menos nas esquinas da vida.
O que procuro ninguém explica,
Nem Freud, nem Jung, nem Ele talvez...
O que procuro não se acha,
E se um dia eu achar,
Finjo que não achei...

O que sou


Sob uma imensidão de sonhos
As utopias socialistas de Marx
Os anseios de Freire
A liberdade de Che
A justa palavra de Jesus
Me pergunto o que sou.
E essa pergunta não cala
E a ferida não sara...

Navegando


Um breve silêncio me tomou de assalto,
Me fez vislumbrar a faixa infinita dos horizontes
Numa profusão de expectativas em expansão.

As sentimentalidades se afloraram em mim,
Fiz-me gladiador e cortei com minha espada
Todos os rancores e temores que me assolavam.

Perdoei a mim mesmo diante de meus pecados
Estraçalhei todos os recados mal...ditos
Zombei daquilo que sempre levei a sério.

Naveguei numa jangada de bambu
Pelos mares cantados por Homero
Feito Odisseu, venci as atribulações dos deuses.

Terra à vista! Terra à vista!

Mas não posso fincar o pé no chão
Preciso contimnuar a navegar e navegar...
Pois ainda não tenho uma Penélope
Tecendo os sonhos de minha volta.

E o breve silêncio já não é tão mais breve assim...

Visão erótica


O poeta pega o lápis e o papel
O pardal com saudade de Paris
Canta que nem louco no teto.
A poesia parece querer nascer;
Entre goiabeiras e jabuticabeiras
Lá vai o malandro assanhaço
Quem nem avião
Cai de bico no mamão.
O poeta sorri
Se lembra de sua primeira vez...
Foi maravilhosamente estúpido
Como o vôo do assanhaço.

Sei não


O que sou nem sei ao certo
Inefável meu passado
Incerto meu futuro
Trágico meu presente.

Sem pai sem mãe
Sem escola e sem saúde
Nasci no Brasil
Filho da desigualdade.

Tenho sonhos e desejos
sinto frio e fome
Me contento com uma blusa
E com o resto de comida
Que este país me dá.

Detesto comícios políticos
Usam palavras difíceis
Como utopia, isonomia,
Soberania e outras mais.

O que eu sou?
Para que eu presto?
Nada a declarar
Seu moço...

Monólogo da despedida


Pode deixar os cacos, eu mesmo os recolho,
Já pensou se você me acerta na cabeça?

Não, não chore ao ver lágrimas em meus olhos,
Vai passar, você vai ver, tudo o tempo conserta.

Sim, leve esta foto, talvez você sinta saudade,
E quando menos você espera a beija em seu quarto.

Entendo, não podemos conter nossos sentimentos,
Pois são águas incontroláveis, eu entendo sim.

Ta bom, eu prometo, vou superar tudo isso,
Afinal, o que posso fazer senão tocar em frente, né?

Não, não me importo, pode levar todas as cartas de amor,
Até porque eu as tenho aqui em meu cérebro.

Não se preocupe, vou comprar um ótimo despertador,
Que te substitua nas manhãs para me acordar.

Preciso te falar uma coisa, você sabe que adoro brigadeiro,
De vez em quando vou te pedir que faça para mim, tá?

Certo, sei que você adora ouvir estes CDs, pode levar,
Mas se ouvir a faixa cinco deste vai ter uma recaída, heim?


Você sempre achou isso de mim, mas não é bem assim,
Na verdade eu sou deste jeito, prepotente às vezes, só isso.

Sim, vai aparecer alguém especial que me amará,
Alias, você sabe, acredito muito no amor.

Já que insiste, eu recito o verso de Vinicius:
“Que não seja eterno, posto que é chama,
Mas que seja infinito enquanto dure”.

Não vamos começar a chorar novamente,
Você não tem culpa, eu entendo, já disse!

Deixa que eu fecho a porta, seu novo amor te espera,
Está morrendo de ciúmes lá no carro, olha a cara dele.

Então tá, despedida sem beijo e abraço, tudo bem,
Adeus.

O tempo do homem do tempo


O tempo é um constante passar,
Nunca pára para me cumprimentar.
Eu, solitário, encostado na porta de um bar,
Esperando lancinantemente o tempo passar...

Quem pode mais: o homem ou tempo?
O tempo por si é infinito
O homem pelo tempo é finito.

Eclesiasticamente falando, há tempo para tudo,
Mas, ao mesmo tempo, o tempo é tudo:
Onisciente, controla tudo porque está em tudo.

Quem pode mais: o homem ou o tempo?
O tempo é escravo de si próprio;
O homem é escravo do tempo e de seu tempo.
O tempo é a sua própria causa.
O tempo é o abstrato fatal do homem!

Seja mais você


Sobre o teu rosto...
Passe o véu da verdade.
Afaste de ti toda a escuridão,
Use de Minha luz...
Pegue em Minhas mãos,
Siga em frente Comigo.
Acredite sempre:
Você vencerá!
Abandone tudo que é vil,
Despreze o inútil,
Diga adeus a tudo
Que te fere a alma.
Olhe o pássaro que voa
No imenso céu:
O que mais deseja
Senão a liberdade?

O Sorriso dela


o poeta adora o sorriso
feminino que o leva
às raias do deslumbre...

vê nos lábios dela
pétalas rosas amarelas
e a vida assim mais bela...

numa espécie de tela
em miríade de cores
do maior dos pintores:

de toda prosa lírica
entre nuvens e trovões
sonha os seus amores...

e o sorriso dela
todo poderoso e sensual
entre tantos se impõe...

o poeta menino de arte
provoca nela
o sorriso que sempre espera...

O homem e sua solidão

Um homem e sua angústia trilham na escuridão...
O suicídio lhe agrada, mas a morte não o convence.
Então ele pára na encruzilhada daquela velha estrada,
Pensa, mexe a cabeça, olha para a lua e sorri...
Volta para casa pela madrugada...

AMOR IMERSO

Vejo meus olhos espiando a profundidade de meu ser Sinto meu corpo escorregando nos desfiladeiros de minha alma. E mesmo assim não perco...